[CH] Parque Suzuyama

A morena em si já estava imersa em pensamentos e com um suave bloqueio do mundo à sua volta. Fora Ushio quem estancara sua corrida meio lenta e voltara o olhar para a dupla ao reparar no berro de timbre conhecido. Ela ficou parada por um tempinho antes de correr na direção da mãe e puxar levemente o tecido de sua calça, apontando para Shouta. Por sua vez, esse estímulo a fizera virar o rosto naquela direção. Franziu o cenho... E um alarme soou em sua mente.

Seguida por sua filha, a última aos tropeços e com certa distância, disparou como um míssil na direção de ambos. Ao frear, já apoiava o braço do rapaz em seus ombros. Preocupada, o fitou, enquanto Ushio sentava na relva.

- Shouta? Você está bem? O que está sentindo?

O rapaz segurava a própria camisa, apertando o tecido na esquerda do peito. Não respondeu, mas seu rosto expressava dor enquanto ele se curvava um pouco para frente.

- Ele não ta conseguindo respirar.. - O menino disse assustado pois a anos assistira aquela cena. - Ele precisa se acalmar.. Pai.. - Taichi esfregava a mão as costas de Shouta.

A garota respirou fundo e fez o rapaz se sentar. Pegou o telefone e rapidamente discou os números.

- Vou chamar uma ambulância. - Setenciou, o nervosismo à flor da pele.

Ao atenderem, explicou a situação na velocidade de um raio e logo havia desligado. Segurou a mão de Shouta, perdida... Não convivia com aquele tipo de problema...

- Taichi, o que costumam fazer quando isso acontece? - Tentou se acalmar um pouco. Nãopodia correr o risco de deixar o rapaz pior..

Shouta tentou pedir para ela não chamar uma ambulância, pois em hipótese nenhuma queria ir a um hospital. Apertou levemente a mão de Louise.

- Isso não acontece, desde que ele operou. - Disse perdido. - Pode estar assim porque teve muitos estresses nos ultimos dias. - Comentou. - Pai, você precisa ficar calmo...

Fitara o rapaz com o aperto... Claro. Akemi. Ele não queria ir... Mas então, o que faria?! Sem ar... e Taichi falara de estresse mas, sinceramente, provavelmente não estava em condições de tranquilizar ninguém. Sua mente rodava a mil por hora e agira sem nem mesmo pensar, buscando uma segunda opção rápida. Ao menos o básico saberia!

Deitou-o na relva e, enquanto sua razão fora passear por Nárnia, cerrou as distâncias dos lábios... Embora o procedimento claro que realizava fosse apenas uma respiração boca a boca. Era sua saída...

Ushio? Assistia, aprendendo...

Shouta já enxergava embaçado. A falta de oxigênio fazia sua visão falhar, mas ainda conseguia ver um borrão rosa, na qual era seu filho e ouvia a voz dele. Sabia que estava preocupado. Fora deitado na grama e aquilo diminuiu um pouco a tontura. Não demorou a sentir um par de lábios sobre os seus expelindo ar para dentro de seus pulmões. Aquilo lhe deixara um pouco tenso, mas sabia que deveria se acalmar por seu filho.

Taichi afastou-se e sentou ao lado de Ushio tapando os olhos da menina.

Ainda que tal fator se mantivesse longe da mente da jovem no determinado instante... Era estranho sentir uma nova textura labial após tanto tempo. Se concentrava no seu trabalho atual, não queria ver o rapaz desmaiando por falta de oxigênio...

Ushio piscara algumas vezes quando a paisagem que via foi trocada por um negrume abrupto. Ela tocou as mãos que aprisionavam seus orbes arroxeados, mas não tentou tirá-las dali.

- Gato mia...?

Tentou recuperar a calma aos poucos, ou o trabalho que Louise estava tendo seria em vão. Apesar de ser apenas uma ajuda, Shouta sentia-se sem graça. Fazia muito tempo que não encontrava os lábios de outra mulher que não fosse Saki. Depois de tantos anos juntos, havia se acostumado a ela e sofrera na hora da separação. Pelo menos havia ficado com os filhos, aquilo lhe dava motivos para continuar.

- Miau? - O menino disse confuso. Nem se lembrava como brincava disso.

Sinceramente, apenas tentara apagar da cabeça quem estava ali. Sentia falta de Ethan e isto nunca poderia negar. Mas estava vivendo sua vida e seguindo em frente em nome de Ushio. Tinha poucos ou nenhum motivo para envergonhar-se do beijo. Sabia como era perder alguém querido e não queria que Taichi passasse por algo do tipo.

- É o algodão doce...

Fechou os olhos e deixou-a prosseguir, apenas relaxando o corpo. Aos poucos aquela sensação em seu peito sumia e podia respirar com pouco mais facilidade. Colocou a mão sobre a bochecha da morena e afagou, a afastando de si alguns centímetros.

- Obrigado. - Murmurou

Taichi assistia aquela cena. Até parecia coisa de filmes que sua mãe gostava de ver e até chorava no final.

- Ah.. sim. - Respondeu, voltando atenção pra menina.

Ela voltou para a realidade ao sentir a carícia em sua face. Quando o contato foi rompido, um suave tom de rubor coloriu suas bochechas. A morena ofegava com sutileza.

- Não precisa me agradecer. Eu só ajudei um querido.

- Ushio tá quebrando a promessa que fez ao algodão doce? - A pequena ergueu a face e seu olhar cruzou-se ao dele. Inocente...

- Mesmo assim... - O rosto do rapaz também estava rubro.

- Não, mas Ushio deixou algodão doce bravo. Algodão doce não quer que Ushio se machuque.. - Disse, passando a mão sobre os cabelos da menina.

A morena balançou a cabeça com suavidade, suspirando levemente. Com sutileza, fez uma tênue carícia nas costas da mão do rapaz.

- O importante é que você está bem, Vice teimoso. - Permitiu-se abrir um pequeno sorriso.

A pequena recuou o tronco atê que o topo de sua cabeça encostasse na camiseta do menino. Piscou algumas vezes, o encarando...

- Ushio pede desculpa. Ushio não entendeu o que fez de mau. Ushio tá bem...

- Sim... - Sussurrou e fitou os olhos ametistas de Louise. - Espero que não tenha sido muito incomodo.

- Tudo bem Ushio, eu vou te desculpar. Só não faça de novo. - Disse já mais calmo.

- Estou... Melhor. - Ele apoiou as mãos na grama para erguer o corpo para frente.

- Sim Ushio, ainda somos amigos. - Respondeu a menina.

Quando a morena notou o esforço do rapaz, afastou-se levemente, apoiando-lhe com sutileza e o auxiliando a sentar-se. Ushio deitou na grama e afundou a face na relva.

Shouta sentou-se e passou a mão no rosto. Aquela sensação havia ido embora, como se não houvesse aparecido antes.

- Você ta bem pai?

- Sim... Taichi... - Antes que continuasse o menino o cortou.

- Se for pra pedir desculpas não quero ouvir. Me peça quando você parar de fazer isso. - Quando parasse de descontar nele. - É melhor irmos para casa para você descansar. - O menino passou a mão nos cabelos de Ushio e levantou, indo ajudar Shouta a se colocar de pé.

- Você tem razão... Louise, venha nos visitar. Ainda moro no mesmo lugar. - Há anos havia dado o endereço a ela e esperava que tivesse.

- Foi um prazer conhecê-las, Louise-san e Ushio. - O menino disse em um tom simples de educação.

- Foi bom vê-la, venha mesmo nos visitar. E traga Ushio. - Se despediu de cada uma com um beijo no rosto.