[S] Praça da Hachiko

Não era nenhuma novidade que a garota já havia sim crescido. Afinal, dois anos se passaram! Nenhuma pessoa no mundo - exceto anões... - fica por tanto tempo com a mesma altura ou quaisquer outras coisas. Outra coisa: Também mudara muito. Quem visse e a comparasse quando era menor, talvez nem mesmo reconhecesse a garota, se não fossem as características e certo traçado que jamais a abandonara: O gosto por doces.

Sabe, normalmente, saía direto da escola e encolhia-se perto da estátua de Hachiko, monumento bem apreciado pela menina. Aliás, amava a história por trás daquela imponente figura de pedra. Era quase uma Utopia um relacionamento assim, porém, não era estritamente surpreendente, certo? Animais - principalmente cachorros - costumam se apegar aos donos deste modo, mais ainda se forem criados desde pequeninos.

Há algum tempo, estancara de se mencionar o tempo todo na terceira pessoa, como se fosse uma figura diferente de si própria. Também amenizara os apelidos quase sempre frustantes ao relacionar as pessoas com doces e açúcares; Não era simplesmente uma pirralhinha e aquela mania perdurara por muito tempo. Se bem que isso também poderia ter seu lado negativo: Não era mais tão animada como antigamente. Havia virado uma criança mais reclusa, afogada e oculta por trás das inúmeras páginas dos livros que engolia. E se sua mãe antes só precisava se preocupar em pará-la com doces, agora poderia até mesmo falir se atendesse a todos os seus desejos de mangás, açúcares e livros.... Mas, não. Contentava-se com o que tinha e com idas à biblioteca; Pelo menos, na maior parte do tempo era assim. Desaprendera ainda mais a socializar-se com as outras crianças: Preferia ficar no seu canto, rabiscando, lendo ou, mais raramente, escrevendo. De fato, esse era um traçado que não muito fisgara de sua mãe.

A morena? Diversas vezes tentava invadir aquela concha que era a criança. Se tentara mudá-la de colégio?... Sim. Mas quantas vezes não tivera de enfrentar aquela birra interminável da criança para permanecer no mesmo lugar!... E cedia. Talvez por não querer piorar a situação, talvez por receio. Mas cedia. E tais fatos eram selados praticamente entre sete chaves.

Demorara em torno de cinco minutos além do normal para a pequena sair praticamente arrastando os pés. Destaque..? Apenas por suas mechas azuladas, se duvidar. O olhar era baixo e as mãos se cerravam tenuamente sob as alças da mochila nas costas... E não estava sozinha. E provavelmente não era por um gosto próprio.

Por qual motivo? Bem, sua "companhia" eram cinco pessoas. Maiores que a garota uns dois palmos, se duvidar. Uma loira (aguada) com uniforme de líder de torcida, juntamente com outra morena esquelética. Elas, e três garotos com camisetas amassadas dos uniformes e casacos jogados aos ombros. Ah, tão iguais!... Tão irritantes. O canto do lábio de Ushio se torcia em descontentamento, mas não fazia nada. Não reagia; Limitava-se a caminhar.

...

Quer dizer, pelo menos até puxarem sua mochila de uma vez pra trás e a pequena quase sair capotando uns dois metros; Felizmente, pôde apenas se soltar das alças e parar de andar, encolhendo os ombros por segundos antes de se virar pra trás e erguer o olhar arroxeado aos outros ali presentes... E isso foi mais ou menos na hora que a loira de nariz arrebitado puxou-lhe o arco das mechas e cutucou o falso girassol ali aprisionado. Revirou-o em mãos; Contorceu a face em uma careta. Um comentário qualquer e riu, antes de largar o enfeite, cujo trajeto ao chão foi acompanhado silenciosamente pelo olhar opaco da criança.

E, ora, quem diabos se preocuparia em parar e se meter com uma estranha qualquer, uhn?

Chegou a abrir a boca, mas a cerrou novamente quando o tênis prateado de um dos rapazes espatifou-se contra o enfeite no gigolé, partindo a pequena planta e enfiando as mãos nos bolsos. E naquele curto intervalo de tempo, a morena remexia as coisas da Mayfield e espalhava os objetos na calçada, mais ou menos até achar um certo caderno de desenhos e o folhear. Segurar o resto?.. Nem importou-se! Apenas largou tudo.

Ah, mas nesse ponto a menor tentou protestar sim e avançar para recuperar o caderno. O resultado?.. Bem, agarrada pela gola por um dos maiores e impactada contra a parede. E talvez um de seus erros também fora tentar se soltar e cuspir na face alheia, graças ao belo murro que recebeu a seguir.

Mas, enfim... Que importava, certo?
Se duvidar muito, era só mas um dia comum.
Pra quê se importar com uma qualquer, uhn?

O garoto? Recuou em um cambaleio com a ofensiva abrupta.. Mas balançou a cabeça e fuzilou o invasor com o olhar. E a reação foi imediata: Os três o rodearam instantaneamente e... Ok. Partiram pra cima.

Ushio? Ainda ficou por alguns segundos desnorteada, provando da dor infligida na face e um gosto metálico descendo pela garganta. Torceu o canto da boca e piscou algumas vezes ao ver a confusão que se instalara... E tnetou avançar. De verdade, tentou!.. Mas ambos os braços foram segurados pelas garotas que estavam ali desde o começo e só pôde chutar o ar e gritar para se afastarem. Oras, que diabos o garoto estava fazendo ali?!

- Tai! Pára com isso! Vai embora! - E se retorcia para livrar-se de suas carrascas. Além de tudo, ainda ia, provavelmente, ter que explicar isso depois...

Argh!

A menor desviou suavemente o olhar com cada ato que se seguiu a partir dali. As garotas?... Se entreolharam por alguns segundos antes de empurrarem a pequena no chão e saírem zunindo dali como duas abelhas biônicas.

Ushio até sentiu o impacto, mas ignorou. Apoiou as mãos na calçada e se apoiou silenciosamente nos joelhos; Olhou ao redor e engatinhou para abraçar o caderno de desenhos e o enfiar no fundo da mochila jogada no chão. A partir disso, foi se preocupando com o resto do material. Olhar para a cara do "irmão"..? Nem se atreveu. Orbes focados no trabalho e a multidão se dispersou, assim como os garotos que deram no pé assim que se levantaram.

Ah, que ótimo.

Esperava ser puxada? Não. O resultado disso foi tropeçar no meio e se embater com o tronco do maior. Encolheu os ombros e se afastou um pouco, abaixando-se apenas para pegar os restos do gigolé quebrado... Torceu o canto dos lábios e fitou o chão.

- Por favor, não fale.

Ela apertou o arco entre os dedos e virou levemente o rosto.

- O que veio fazer aqui? Tentar uma chance de ser um super-herói? Não quero que isso saia daqui. Não quero que a mamãe tenha oportunidade de sofrer por algo a mais!

Ela cerrou o punho suavemente e estreitou o olhar por segundos com tal adjetivo. Mesmo assim, a única coisa que fez foi virar o rosto e sair andando para a estátua. Quer dizer, ainda tinha confiança que a mãe quem viria... Talvez por querer se iludir, mas enfim. Largou o gigolé na primeira lata de lixo que viu e se encolheu perto do cão de pedra.

Burra?!...

Ugh!

A ponta dos dedos roçou pela bochecha anteriormente atingida; Uma mancha avermelhada. Retesou os ombros com o próprio toque e perdeu o olhar no vazio.

Cidade babaca. Vida babaca. Taichi babaca. Colégio babaca. Pessoas babacas.

Todos babacas!

A garota abraçou fracamente os joelhos e ali escondeu a metade inferior da face, apoiando parcialmente o corpo na estátua de Hachiko. Chegou a ficar impassível nos primeiros minutos, mas... Com os pensamentos rodando pela mente, só pôde sentir as gotas salgadas deslizarem timidamente pela face. Pelo próprio orgulho, afundou o rosto nos joelhos e entre os braços. Se bem que o corpo trêmulo vez ou outra a denunciava...

Uff.

Cinco, dez, quinze minutos? Talvez houvesse sim demorado isso tudo... Ou apenas isso. Quando aquilo findou, não disse nada, não deu sinal. Agarrou a mochila por uma alça e saiu a arrastando em uma direção oposta e aleatória. Uhn.